Eu já tive.
Já tive vergonha de aplicar insulina com a caneta, na frente de outras
pessoas.
Já tive vergonha de PENSAR em usar a bomba de insulina.
Já tive vergonha de medir a glicemia no meio da rua, mesmo com sintomas
explícitos de hipoglicemia.
Já tive vergonha de ir em festas com o sensor Enlite ou Libre aparecendo
no braço.
Eu já tive.
Mas não tenho mais. Hoje o sentimento não é de vergonha e sim de
orgulho. Com o tempo eu aprendi que esses dispositivos é que me proporcionam
uma qualidade de vida melhor, mais facilidade no meu dia-a-dia, mais leveza e
liberdade.
Meus dispositivos hoje são meus companheiros, se estiver faltando algum
deles, está faltando um pedaço de mim.
Mas eu entendo que demora um tempo pra gente se acostumar. Na verdade, é
além disso: cada um tem seu próprio tempo para se acostumar e se adaptar.
E nesse período de adaptação, não importa o que os outros falem ou
pensem, quem tem que se aceitar somos nós. E a pior parte é que a gente tem
medo é do julgamento do outro. Comigo foi assim, sempre.
Com a caneta eu tinha medo das pessoas acharem que eu estava me drogando
em público.
Como glicosímetro eu tinha medo de que as pessoas me achassem estranha
ou tivessem pena.
Com a bomba eu tinha medo do que as pessoas iriam achar quando eu
vestisse um biquíni, do que meu namorado iria achar quando eu estivesse sem
roupa. Medo de como as pessoas iriam me olhar quando eu usasse alguma roupa que
marcasse a bomba.
Percebe?! Sempre o medo era sobre o julgamento do outro, sobre o que o
outro pensaria de mim. E eu amadureci quando entendi que: o que o outro pensa
sobre mim é problema dele, e que isso não define quem eu sou e não me limita.
Viver somente em prol do outro é um desperdício de tempo.
Então, coloquei a cabeça no lugar e comecei a viver para mim. O que me
faz feliz? O que faz minha vida mais leve? O que é a liberdade para mim?
Eu me fiz todas essas perguntas no âmbito do diabetes e eu encontrei
respostas para todas elas. E de uma forma geral, todas as respostas estão
ligadas aos dispositivos que uso.
Veja como é tudo um ciclo: eu estou feliz quando consigo controlar bem o
diabetes em minha vida (em todas as áreas: na minha vida pessoal, profissional,
amorosa…), para controlar bem, eu faço o tratamento com a bomba de insulina,
que me traz liberdade e facilidade no controle da minha alimentação, dos
exercícios físicos, do fato que gosto de dormir até tarde aos fins de semana.
Com mais liberdade eu fico feliz. Quando eu estou feliz, eu consigo controlar
melhor o diabetes em minha vida, e para controlar bem, eu faço uso do sensor
Libre, que deixa minha vida mais leve, pois assim evito várias picadinhas
durante o dia e tenho monitorização constante. Com o sensor, eu tenho mais
liberdade. Com mais liberdade eu fico feliz.
Tá vendo? É um ciclo! Mas primeiro é preciso aceitação. A vida com
diabetes não é feita de flores. É preciso disciplina, atenção constante. É
preciso aprender a falar não às vezes.
Não tenha vergonha de ser feliz, de se sentir bem. Não tenha vergonha de
ser diabético(a), de pedir um doce quando estiver com hipo ou de medir a
glicemia na frente de qualquer pessoa. Ser diferente não é sinônimo de ser
ruim, tire isso da cabeça!